Nada é mais agradável, quentinho, e aparentemente seguro, do que a nossa “zona de conforto”. Aprendemos a dominar aquele lugar, porque sabemos como caminhar dentro dele. Há pouco de estranho ali, e afinal, leva-se um tempo para se acomodar subjetivamente em qualquer rotina , hábitos pessoais, padrão aquisitivo, relacionamento, ocupação e cidade, entre outros.
O conceito de “impermanência" - termo emprestado do budismo - nos lembra da finitude dos processos, da constrangedora limitação que temos sobre as mudanças da vida. Como no jogo de baralho, muitas vezes, jogadas inteiras podem ser desfeitas de um momento para a outro.
Então como reagir:
1- Tenha em mente que essa sensação de inadequação é passageira.
2- Planeje-se para realizar, inicialmente, aquilo que é possível. Organizar-se mentalmente para dar os passos necessários para essa mudança, requer aceitação daquilo que foi perdido, mas acima de tudo, requer aceitação de si mesmo e dos nossos próprios limites. A vida não é uma competição, é uma jornada.
3- Peça ajuda. Cada um de nós tem uma rede de apoio: familiares, filhos, bons amigos, médicos de família, enfim. Contar com pessoas nesse momento reforça vínculos e resgata nossa autoestima.
4- Assim que for possível estabeleça uma nova rotina. Bebês e crianças pequenas têm suas rotinas estabelecidas, não por acaso. Rotinas geram segurança e sensação de pertencimento.
5- Olhe com magnitude para o que ficou para trás. Diferente de esnobismo, desprezo ou indiferença, um olhar de magnitude enxerga o quanto se construiu até ali, e não nos deixa esquecer do tanto, que há de resiliência em cada um de nós.
6- Se comprometa com seu bem-estar físico e mental. A impermanência das coisas, diz respeito somente a tudo aquilo, que não temos o poder de controlar. Ao nosso dispor está o cuidado de si mesmo, a escolha dos nossos ideais, dos nossos afetos, dos nossos maiores patrimônios.
Fomos feitos para sobreviver física e psiquicamente: homeostase- termo emprestado da Medicina. Isso quer dizer que há uma busca natural, orgânica e psíquica na direção de uma nova estabilização de nós mesmos. Se cuidarmos do nosso corpo e do nosso espírito, nosso organismo como um todo encontrará um caminho de reequilíbrio. Novas parcerias irão se constituir e novas formas de viver.
Cynthia Bezerra │ Psicanalista clínica │Psicóloga Hospitalar.